internacional - Assad matou 250 crianças, diz relatório

Documento de comissão da ONU coordenada por brasileiro diz que governo praticou crimes contra a humanidade

Texto pede medidas urgentes à comunidade internacional para cessar violência e diz
que situação se agrava

ISABEL FLECK Folha DE SÃO PAULO

As forças militares e de segurança sírias não pouparam nem mesmo as crianças na dura repressão às manifestações contra o governo do ditador Bashar Assad. Essa é uma das conclusões do relatório da Comissão Internacional Independente de Investigação da ONU sobre a Síria, entregue ontem ao Alto Comissariado para Direitos Humanos pelo coordenador do texto, o brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro.

Mesmo não tendo visitado a Síria -sua entrada foi negada pelas autoridades locais, apesar de insistentes pedidos-, ele compilou denúncias a partir de depoimentos de 223 vítimas e testemunhas.

Segundo o relatório de Pinheiro, entre março (início da revolta contra Assad) e 9 de novembro, 256 crianças foram mortas no país e um número inestimado delas foi torturada e violentada sexualmente em prisões.

O relatório lista "crimes contra a humanidade". Para Pinheiro, é "muito espantoso" o número de vítimas crianças. O texto cita o caso de dois garotos, de 13 e 14 anos, torturados e mortos numa instalação da Força Aérea em Damasco, e de um jovem de 15 anos que foi abusado sexualmente na prisão diante do pai.

Mas há ainda informações sobre execuções sumárias, prisões arbitrárias, desaparições forçadas e outros tipos de tortura, como eletrochoques e privação de comida.

Segundo a comissão, a situação se agrava a cada dia no país, exigindo que a comunidade internacional "implemente imediatamente medidas" para cessar a violência.
O grupo sugere que a ONU estabeleça uma "presença em campo" na Síria para monitorar a situação dos direitos humanos e tome medidas urgentes, por meio da Assembleia Geral e do Conselho de Segurança. Mas não menciona a necessidade de sanções ou outro tipo de intervenção.

A maioria das testemunhas ouvidas foi de civis e não militantes. Foram ouvidos também desertores das forças militares e de segurança.
"Os testemunhos dão uma visão aguda e completa das violações contra os direitos humanos na Síria", disse Pinheiro à Folha.
O relatório destaca, porém, a impossibilidade de verificar in loco a intensidade do combate entre forças armadas sírias e outros grupos armados.

Um novo relatório será entregue em março de 2012, e o grupo seguirá pedindo permissão para ir ao país. Após a divulgação, EUA e a União Europeia exigiram novamente uma transição de governo.

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